Todos nós temos uma arte - uma área do conhecimento pela qual nutrimos mais paixão e que logo se torna um objectivo de vida. Juntando-lhe as manias ou particularidades próprias de cada um, obtemos uma mistura fina de matéria-prima cognitiva que vale a pena partilhar e discutir com os demais. Sob este título, revela-se um grupo de pessoas e um ponto de encontro virtual no qual todas as Artes & Manias têm espaço assegurado.

15 abril 2008

Programa nacional de barragens com elevado potencial hidroeléctrico

Nos termos do protocolo de Quito, Portugal terá de reduzir em 27 % a emissão de gases com efeito de estufa até 2012, devendo produzir energia menos poluente para assegurar o crescente energético que se tem verificado. Actualmente, o país é energéticamente dependente de terceiros, no final de 2006, o país tinha 4950 MW instalados, ou seja apenas produzia 25% do consumo de que necessitava. Segundo o protocolo de Quioto, é necessário atingir os 7000 MW até 2020.

Para cumprir as metas estão a ser reforçadas as potências nas centrais de Picote e Bemposta (+409MW), na duplicação da central do Alqueva (+260MW), nos aproveitamentos realizados de Ribeiradio (70MW) e Baixo Sabor (170 MW), o que no total permitirá aumentar em 909 MW, ou seja cerca de 45 % da meta a atingir em 2020. Para satisfazer a meta estabelecida (7000 MW) será necessário reforçar a produção e desta forma o governo propõe a edificação de25 aproveitamentos hidroeléctricos pelo facto do país ter ainda um potencial hídrico elevado por explorar.
(ver fig anexa)

A proposta do governo para alcançar os objectivos assenta no principio de que utilizando os recursos hidroeléctricos, o país reduzirá a dependência energética aproveitando um recurso endógeno e renovável. Para além deste, a construção destas barragens permitirá ainda fornecer água às populações cujo consumo aumenta cada vez mais, implementar sistemas de regadios aumentando as produções agrícolas e pecuárias fortalecendo as reservas de bens de primeira necessidade cujos preços nas bolsas de valor sobem tem sofrido subidas consideráveis desde a introdução dos biocombustíveis. Por fim, as barragens servirão ainda para controlar cheias ou períodos de seca, introduzir políticas concertadas de combate a incêndios e ainda permitir a utilização para fins lúdicos e promover o turismo.

Para a execução deste plano designado por programa nacional de barragens com elevado potencial hidroeléctrico (PNBEPH), foi realizado uma avaliação ambiental e respectivo relatório de factores críticos. Estes últimos são identificados como os pontos chave de uma avaliação ambiental, são estes: as alterações climáticas, a biodiversidade, recursos naturais e culturais, os riscos naturais e tecnológicos, o desenvolvimento humano e a competitividade.
Em cada factor é analisado o seguinte:
- nas alterações climáticas verifica-se se implementação contribui para a diminuição dos gases com efeito de estufa e para o cumprimento do protocolo de Quioto.
- na biodiversidade determinam-se os riscos e as oportunidades para os habitas
- nos recursos naturais e culturais verifica-se quais os riscos e as oportunidades para a conservação do património cultural, recursos hídricos, recursos minerais e da paisagem
- nos riscos naturais e tecnológicos pretende-se avaliar se a capacidade do programa contribui para a redução de cheias, secas e incêndios
- e no desenvolvimento humano e na competitividade pretende-se avaliar a diminuição da pobreza, a melhoria das condições de saúde bem como o desenvolvimento regional e a dependência energética.

Todos estes factores foram ponderados e desta análise obteve-se o balanço entre a necessidade de investimento e os efeitos negativos que estes podem provocar.
Do relatório ambiental, a proposta mais vantajosa, a que minimiza os efeitos negativos e optimiza a solução, passa pela edificação dos aproveitamentos de Almourol, Alvito, Daivões, Foz Tua, Fridão, Girabolhos, Padroselos, Pinhosão e Vidago.

Embora tenha havido vários ambientalistas a defender a não construção de algumas destas barragens, será que neste juízo foram consideradas as alterações climáticas que cada vez mais acentuam as cheias e as secas? Claro, tudo depende do ponto de vista, o que prevalece a necessidade em água e energética ou a conservação da biodiversidade ou do património?


8 comentários:

Helena Antunes disse...

As energias renováveis são sempre a melhor solução, para não ficarmos dependentes de terceiros e, principalmente, por uma questão ambiental. Contudo, renovável ou não, cabe a todos nós termos um uso eficiente da enregia e não fazer desperdícios.
Cabe ao Governo o papel de apostar mais em energias renováveis e sensibilizar a população para as mesmas e para o seu uso eficiente.
Penso que Portugal está bem servido a nível hídrico, daí as barragens para a produção de energia, e mais todos os aspectos que enumeras (como as alterações climáticas), devem ser uma aposta!

Acho que este tema dever servir de reflexão para todos nós.

Bom texto, Gisela!

Gisela Rodrigues disse...

Este tema merece ser melhor explorado. A água é um bem essencial que em muitos locais do mundo não existe com facilidade e quando existe é de máqualidade para a saúde. Faz-me confusão pensar em bem protecção ambiental se esta implicar com o fornecimento de água a população. Felizmente,em Portugal as secas não são muito severas quando comparadas de outros países, mas elas têm vindo a acentuarem-se. Por essa razão, não devem ser ignoradas.

BEJA TRINDADE disse...

Fica a pergunta para quem quiser ou souber responder:

A água como um bem público e universal, deve ser privatizada?

Gisela Rodrigues disse...

A meu ver não é a água que é privatizada mas o serviço e este como sabemos quando efectuado por entidades públicas normalmente não tem a mesma eficiência. Para além disso, com a directiva quadro da água, este bem deve passar a ser cobrada pelo valor "verdadeiro" de custo o que na realidade não acontece, a maior parte dos sistemas (municipais) acarretam a maior parte dos custos. Por outro lado a mesma directiva refere que a água deve ser acessível a todos. Em Portugal,existe uma entidade reguladora para este mercado, o IRAR, que parece estar a defender todas estas questões...

Gisela Rodrigues disse...

A meu ver não é a água que é privatizada mas o serviço e este como sabemos quando efectuado por entidades públicas normalmente não tem a mesma eficiência. Para além disso, com a directiva quadro da água, este bem deve passar a ser cobrada pelo valor "verdadeiro" de custo o que na realidade não acontece, a maior parte dos sistemas (municipais) acarretam a maior parte dos custos. Por outro lado a mesma directiva refere que a água deve ser acessível a todos. Em Portugal,existe uma entidade reguladora para este mercado, o IRAR, que parece estar a defender todas estas questões...

BEJA TRINDADE disse...

Francamente, não entendi a resposta:
Por um lado, a água deve ser acessível a todos, mas, por outro lado acarreta a maior parte dos custos municipais, então pelos vistos a solução é privatizar. Se bem entendi a água, apesar de ser um bem público, universal dádiva da natureza, deve passar a ser um negócio para uma meia dúzia de famílias, que Deus nosso Senhor decidiu privilegiar, depois criam-se os IRARs, para descarga de consciências e para fingir que foi criado pela casta dominante, para defesa do pobre consumidor compulsivo.

Não há dúvida, fiquei esclarecido.

Gisela Rodrigues disse...

É o que está a acontecer.
Está pensada que o IRAR passará a entidade independente, até lá o Estado ainda controla.

Helena Antunes disse...

http://jn.sapo.pt/2008/04/21/ultima/portugal_falhou_meta_quioto.html