ARTES & MANIAS

Todos nós temos uma arte - uma área do conhecimento pela qual nutrimos mais paixão e que logo se torna um objectivo de vida. Juntando-lhe as manias ou particularidades próprias de cada um, obtemos uma mistura fina de matéria-prima cognitiva que vale a pena partilhar e discutir com os demais. Sob este título, revela-se um grupo de pessoas e um ponto de encontro virtual no qual todas as Artes & Manias têm espaço assegurado.

30 março 2009

Ainda o Papa e os preservativos

Confesso, que infelizmente, não pude acompanhar como gostaria a visita do papa Bento XVI a África. Essa terra tão querida e tão desejada, como esquecida e relembrada só de tempos a tempos porque por lá passou algum branco, mais ou menos famoso, e lhe deu visibilidade. Parte-se, por isso, do princípio (errado) que África só tem vida, só é geradora de vida quando por lá se passeiam brancos.

Visão completamente desfocada da realidade. Completamente desintegrada da realidade. E completamente falsa. África tem vida por ela própria basta senti-la, ela e as suas gentes entranham-se de tal maneira nos nossos poros (apesar de que brancos) para só fazer sentido se for "contada" e "vivida" por esses (ex)escravizadores, (ex)colonizadores de alva cor. África é África e só tem sentido se se olhar para ela de olhos bem atentos à realidade, cultura e forma de estar das suas gentes.

Imagem retirada daqui.


Estando o papa em África qual não foi o espanto dos branquicelas quando ele proferiu "A SIDA não pode ser superada através da distribuição de preservativos, o que apenas agrava o problema". Mas espanto senti eu hoje quando olhei para a frase, limpei os preconceitos todas da minha mente e a li, já agora, convenientemente.

"... DISTRIBUIÇÃO DE PRESERVATIVOS...." Ou seja, distribuição de preservativos NÃO utilização de preservativos. Agora digam-me lá que não faz sentido o que abaixo vou tentar expor.

África é como se diz, e bem, o continente mais flagelado pela SIDA com 22 milhões de infectados. À custa destes dramáticos números África foi "invadida" por milhares de ONG (e algumas D) que ao invés de actuarem a montante do problema levam nas malas preservativos e mais preservativos e mais preservativos e a prevenção que fazem da doença é distribuir gratuitamente preservativos. O terreno é difícil, os preconceitos sobre a doença e a sexualidade naquele continete são mais ainda, mas não é só com preservativos que se resolve o flagelo da doença, esta é, sim a forma mais fácil de actuar sobre o problema que de uma maneira simplista poderia ser traduzida do seguinte modo: "Nós damo-vos os preservativos e vocês vejam lá se os usam, senão morrem. Há e se alguém vos perguntar quem vos deu digam que foi a instituição X ou Y (sempre são mais uns milhões que encaixamos quando formos levados em ombros para a Europa)".

Acho que todos os que me leêm concordam que isto não é prevenção. A prevenção é ter a paciência suficiente de lhes explicar causas e consequências do HIV e sempre que possível procurar chamar a atenção para a gravidade do problema, isto de uma maneira concertada e correcta, não de uma maneira leviana e branda. Daí a afirmação do papa e volto a repeti-la ipsis verbis: "A SIDA não pode ser superada através da distribuição de preservativos, o que apenas agrava o problema".

Agrava o problema e aqui coloca-se a velha questão! Se te derem o peixe alimentas-te durante um dia. Se te ensinarem a pescar tens alimento para o resto da vida. A Igreja Católica é o que procura fazer em África (e no resto do mundo), não dar o peixe e "regressar em ombros", mas ensinar a pescar "permanecendo até serem capazes de o fazer sozinhos".

Outra falácia que veio a lume na comunicação social é a de que os católicos africanos que vivem em África (e já agora todos os outros católicos espalhados pelo mundo) ao ouvirem estas palavras vão tornar-se suicidas, ou seja, deixarão de usar preservativo depois das declarações de Bento XVI. Em relação a isto apenas um apontamento breve: os católicos de todo o mundo antes de o serem (ou sendo-o) são pessoas de bom senso que não se atiram para dentro de um poço, só porque alguém lho diz.

D. Ilídio Leandro (bispo de Viseu) assina um artigo de opinião que é tudo menos esquizofrénico sobre a problemática do uso do preservativo.

P.S. Como sempre este post apenas pretende dar a conhecer o OUTRO LADO, se é que há "lados" quando se trata da vida humana.


Texto originalmente publicado aqui a 24.03.2009

21 janeiro 2009

The day after

Hoje o mundo esteve de olhos voltados num único sentido, o sentido da mudança!

Desde a vitória de Obama no passado 4 de Novembro que muito se especulava sobre s ideias deste homem para o mundo, depois do ano novo a atenção virou-se para o conteúdo do discurso. Muitas publicações nacionais e internacionais apelidaram-no de messias, outros falando do seu carisma apontaram-no como o líder de uma nova religião.

A meu ver tudo o que se disse é História e já há muito que faltava ao mundo um verdadeiro líder, mundividente e pluralista, que abrisse os olhos daqueles que impelidos pela crise de valores e de crenças se limitaram ao derrotismo e pessimismo, que outros tantos apelidam de crónico na nossa sociedade.

Eu fui um dos muitos milhões que acompanhei em directo a tomada de posse do novo presidente dos EUA, Barack Obama, emocionei-me quando ele próprio se "engasgou" na altura do juramento, o que faz prova da humanidade daquele homem que a partir de hoje carrega aos ombros as expectativas não só dos americanos, mas de todos aqueles que (ainda) acreditam na construção de um mundo melhor. As expectativas dos prisioneiros de Guantanamo, dos refugiados espalhados um pouco por todo o mundo, desde a Palestina, ao Sudão, ao Congo, ao Chade, dos jovens palestinianos mergulhados numa guerra de ódios que não é a sua, dos homens bomba manipulados por um qualquer líder fanático, as expectativas das crianças quenianas que personificam as de todas as crianças africanas subjugadas a um ciclo vicioso de pobreza. E para além de todas estas prementes expectativas carrega também as de todos os homens e mulheres do mundo ocidental que não sabem se amanhã terão trabalho, se poderão honrar os compromissos assumidos, as expectativas de milhões de pais que pretendem dar aos seus filhos o melhor. As expectativas de todos os excluídos do "sistema" que não têm nesta noite uma casa que os acolha, de todas as mulheres que neste noite vendem o corpo -e a alma - sob o jugo de redes de prostituição mundial. A juntar a todas essas expectativas estão as de todos nós, anónimos cidadãos da aldeia global.

Eu fui um dos muitos milhões que acompanhei em directo a tomada de posse do novo presidente dos EUA, Barack Obama e vibrei com o seu discurso. Há quem diga que foi pobre, que era expectável mais, que um líder messiânico deveria ter entusiasmado mais os 2 milhões que estiveram em Washington só para assistir à tomada de posse. Pois eu sou da opinião que o discurso não poderia ser mais incisivo. Em 18 minutos deu a volta aos problemas dos EUA, mandando inclusive um recado, a meu ver potente, para o Senado "não é hora de criancices", apelou à unidade nacional sem ter de fazer um discurso eloquente, mas que resume a tão falada frase de Kennedy - "Não perguntem o que é que o vosso país pode fazer por vós, mas o que vocês podem fazer pelo vosso país". E ao nível internacional resumiu também aquilo que irá ser a sua política externa: começou pela aldeia natal do seu pai para dizer aos líderes africanos que a democracia e a transparência na política são dois princípios sob os quais se deve guiar qualquer país, passou pelo Médio Oriente e deu também uma palavrinha aos extremistas religiosos daquela região.

Ao nível internacional, ainda, apraz-me parafrasear as palavras de Lipovac - "Consegue imaginar um homem de nome Barack Hussein Obama a conferenciar com os árabes? Consegue imaginar um negro, abandonado pelo pai, a conferenciar com países que nos desprezam? Não vê como ele pode chegar a pessoas de todos os cantos do mundo?"

A título muito pessoal espero que este momento histórico seja de viragem para uma nova era. Espero que seja o momento da América se unir ao resto do mundo e de em uníssono com ele contribuir para a construção de uma nova forma de encarar esse mundo. Um mundo onde ninguém é ou está contra ninguém, um mundo onde a paz é o valor fundador, onde se procure sempre uma via pacífica para os conflitos.
Originalmente publicado aqui.

14 janeiro 2009

O "Barril de Pólvora"

Hoje, dia 14 de Janeiro, Osama bin Laden veio apelar à "jihad" (guerra santa) contra os opressores do povo palestiniano, ou seja, nas palavras do líder da "Al-Qaeda": israelitas e seus apoiantes, sendo clara a mensagem contra os EUA e seus aliados.

Aproxima-se o dia da tomada de posse de Barack Obama, e o mundo árabe coloca enormes expectativas na nova administração americana e suas políticas, os habituais aliados e amigos dos EUA estão também expectantes, ou seja, Obama irá sentar-se em cima de um "barril de pólvora" perigosíssimo. Se por um lado pretende iniciar uma nova era nas relações internacionais, nomeadamente do ocidente com o médio oriente, os EUA não querem, certamente, baixar a guarda face a ameaças terroristas.

Juntando a crise económica mundial às disposições anteriores podemos afirmar, sem qualquer dúvida, que os primeiros meses vão ser fundamentais para perceber o que realmente vale a nova administração americana e o novo presidente, Barack Obama. As expectativas e os desafios para o novo executivo dos EUA estão colocados muito alto, o futuro tratará de nos responder sobre a sua capacidade de resposta.

09 janeiro 2009

Censura eletrónica

Há pelos vistos um determinado blog, gerido por uma "Menina Tirsense", onde existe censura!

Dizem os valores da democracia que toda gente tem direito a opinião e, pensava eu, a censura tinha deixado de existir em Portugal logo após Abril de 1974, mas afinal estou enganado.

Expressei a minha opinião no referido blog, mas o meu comentário foi alvo de censura, ou então a aprovação da sua publicação espera o consentimento do edil de Santo Tirso, uma vez que já o escrevi há mais de 12 horas e ainda não foi publicado, ao contrário de outros comentários mais recentes.

No blog desta "Menina Tirsense" os comentários só são publicados mediante prévia aprovação, por parte da gestão do blog claro está. Segundo parece quando as opiniões são divergentes, não há publicações, logo, não há comentários. Entre a democracia que se apregoa e a que se pratica parece haver diferenças fundamentais, pode-se chamar "povinho" aos habitantes do concelho de Santo Tirso e ao mesmo tempo resumir o debate a opiniões favoráveis.

Cumprimentos.

Neve


Neve no meu quintal!!!! (Guimarães)

06 janeiro 2009

Novo ano, velhas guerras!

Mais uma vez aconteceu, infelizmente, 2009 já conhece uma guerra, o ano é novo, tem alguns dias, mas o conflito já é velho, tem cerca de 60 anos!

Desta vez a máquina de guerra de Israel diz combater o Hamas, que por sua vez afirma combater pela liberdade de todo um povo contra o ocupante opressor. Quem sofre são sempre os mesmos: os civis, as famílias, as crianças e os idosos que de ambos os lados da "barricada" tentam viver as suas vidas, e sobreviver, mais uma vez.

Gostava muito de poder aqui enumerar as formas que considero mais apropriadas para resolver a contenda que opõe estes dois povos, mas não me atrevo a tal. Estamos a falar de seis décadas (após a declaração de independência do Estado de Israel) de conflitos, de guerras, de lutas, de mortes e de ódios num território sagrado para um grande número de religiões, e milhões de crentes.

As soluções para a paz definitiva, ou pelo menos mais duradoura, tem obrigatoriamente de passar pelo bom censo dos responsáveis políticos e religiosos, que nesta zona geográfica assumem importância determinante. Sem este bom censo e a consciência de que são sempre os mais fracos e inocentes a sofrer, temo não haver solução à vista...

24 dezembro 2008

É Natal!

Sim, é Natal! Diz um ditado que o "Natal é quando um homem quiser", não deixa de ser verdade, porém há coisas diferentes no verdadeiro Natal.

É em Dezembro que enfeitamos as casas, preparamos presentes, enfeitamos árvores de Natal, construímos presépios etc. Como tal gostaria de, para além de desejar um BOM NATAL a todas as pessoas, deixar um apelo: tentem esquecer os problemas, tentem esquecer a crise e sorriam nestes dois dias, 24 e 25 de Dezembro. Sorriam para vocês mesmos e sorriam para quem vos é querido, andamos semanas a preparar esta próxima noite, está nas mãos de cada um de nós torna-la mais especial, à nossa maneira.

FELIZ NATAL é o que desejo a todas as pessoas, e saúde para o novo ano que se avizinha.

13 dezembro 2008

Diga lá outra vez?

"Não se paga aos deputados o suficiente para eles todos serem apenas deputados".

"Talvez esteja errado é que as votações sejam à sexta-feira, é preciso arranjar horas para a votação que não sejam as horas em que, normalmente, é mais difícil e mais penoso estar na Assembleia da República".

"No meu tempo não havia votações à sexta-feira, porque já se sabe que é a véspera do fim-de-semana."

Foram estas as declarações de Almeida Santos, hoje, ao fim da manhã. Este "senhor" foi, entre muitas outras coisas, ministro de vários governos provisórios e presidente da Assembleia da República. Considerando a realidade económica dos portugueses, na sua esmagadora maioria, (que tem de trabalhar todos os dias, independentemente de ser sexta-feira ou não e que não ganham 3000,00€ mensais) considero escandalosas as declarações desta "personalidade" política do PS e do país!

Como se não fossem já suficientemente graves as consecutivas faltas dos deputados portugueses, ainda temos que ver, e ouvir, este tipo de afirmações para justificar (de forma absurda na minha opinião) algo que não me parece ter justificação possível.

Depois admiram-se os "especialistas" das gigantescas taxas de abstenção nas eleições em Portugal, claro que os cidadãos não sentem vontade de participar na vida política do país, com declarações destas, estavam à espera de quê?

10 dezembro 2008

A Declaração Universal dos Direitos Humanos

Faz hoje precisamente 60 anos que se assinou em, Paris, a "Declaração Universal dos Direitos Humanos". Depois da Segunda Guerra Mundial a DUDH pretendia ser a pedra basilar do Direito Internacional, em trinta pontos declara as condições "inalienáveis" e "indivisíveis" da condição humana.

Será que hoje, passadas seis décadas na aprovação e promulgação do texto da DUDH, os seus trinta pontos são respeitados? Não me parece difícil afirmar que são todos os dias violados, questionados e afastados pela vil ambição humana pelo poder e pelo dinheiro!

Desde o seu nascimento a DUDH enfrentou terríveis provações e violações, desde logo por aqueles que a não ratificaram: (por exemplo) a URSS absteve-se e colocou-se de parte, porque, segundo eles, não queriam compactuar com aqueles que defendiam os "direitos burgueses" do mundo ocidental. Viemos a saber mais tarde que o líder soviético da altura, Estaline, condenou aos "gulags" e à morte milhões de pessoas (alguns autores apontas mesmo para números muito superiores aos do "holocausto" nazi).

Nos dias de hoje, em pleno século XXI, a DUDH não tem muitas razões para festejar o seu sexagésimo com alegria. A humanidade continua a permitir o perpetuar da violência extrema, os exemplos são já recorrentes quando falamos de países como o Zimbabwe ou o Ruanda, mas é por lá, e infelizmente por muitos outros locais, que a DUDH continua incessantemente a ser violada, e muito mais importante do que tudo o resto, milhões de pessoas continuam a sofrer e a morrer.

Nada mais há a fazer se não esperar, e ter esperança, num futuro melhor para a humanidade, onde finalmente a DUDH seja respeitada como base reguladora das relações entre as pessoas, independentemente das suas nacionalidades, etnias, religiões ou convicções.

19 novembro 2008

Mais uma vez a (falta de) vergonha!

O que está a acontecer no futebol em Portugal é uma falta de vergonha e de seriedade! Não, não estou a falar dos árbitros nem do futebol dentro do campo, também não estou a falar de declarações mais ou menos incendiárias de dirigentes, treinadores, jogadores ou responsáveis pelos organismos de gestão ligados ao futebol. A vergonha de que falo, e que me revolta, acontece todos os anos, mais cedo ou mais tarde, em mais ou menos clubes profissionais, em Portugal: salários em atraso!

Desde pequeno que o meu pai sempre me disse que "quem não tem dinheiro não tem vícios", coisa que pelos vistos uma grande parte dos responsáveis dos clubes portugueses não sabe o que é. Não adianta começar a época com grandes investimentos, contratos avultados, nomes sonantes e um sem numero de esperanças se vamos, poucos meses depois, cair em desgraça porque mais uma vez o clube não cumpre as suas obrigações, e vamos ter novamente: salários em atraso, pré avisos de greve e funcionários a viver verdadeiros dramas económicos e sociais. Todos os anos quase sempre os mesmo clubes colocam os seus funcionários nas mais desesperantes situações! É preciso ter consciência que os profissionais do futebol, como os jogadores ou treinadores, mas também os roupeiros e os tratadores da relva, tem famílias, tem compromissos económicos, e como toda a gente, quem trabalha merece o seu ordenado, maior ou menor, é o que está nos contratos. Se os valores contratuais são altos de mais para o clube não foram certamente os jogadores ou empresários que obrigaram os clubes a tais contratos, os clubes são quem decide se pelo valor "x", pode ou não contratar o profissional "y".

Apesar de não me parecer que alguém com poder de decisão vá ler este blog, muito menos o meu texto, queria fazer um apelo a quem de direito para que tome medidas: quem consecutivamente não cumpre as suas obrigações tem de ser punido, multas só iriam acentuar as crises, como tal, que se desçam de divisão os incumpridores, que se extingam os clubes, mas há coisas que tem de ser controladas e, fundamentalmente, que não podem continuar a acontecer.